Histórias – Gráfica Primagraf

“Tenho fé em Deus e muita vontade de trabalhar, mesmo aos 73 anos”

Nilo Lovis, diretor da Primagraf, fala de sua trajetória no setor gráfico e de como vem fazendo a empresa, mesmo com dificuldades, chegar aos 30 anos de atividades.

Como o senhor iniciou no setor gráfico?

Venho da área gráfica há mais de 50 anos. Como funcionário na antiga empresa Lojas HM, um dos departamentos que eu gerenciava era a área de compras de materiais de uso e consumo, incluindo material gráfico. Uma de minhas funções era visitar os estados onde a empresa tinha lojas, o que abrangia Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. Nas visitas, eu contratava gráficas locais para atender a parte de notas fiscais de cada estado. Sempre simpatizei com o meio gráfico, achava interessante ver o produto inicial tomando forma até o resultado final.

Quando a HM encerrou as atividades, fui informado que a área gráfica era promissora, e como já conhecia um pouco do trabalho interno, fundei minha própria empresa em novembro de 1994. Consideramos a data oficial de abertura 6 de fevereiro de 1995, quando saiu o registro na junta comercial. Iniciamos em um espaço de 80 metros quadrados com uma pequena Multilith, em que fazíamos folhetins. Em 1995, comprei uma Hamada, para a produção de blocos de notas fiscais, o que realmente impulsionou a empresa. Posteriormente adquirimos duas GTO-Z, sendo as duas máquinas bicolores – Heidelberg e, em 2011, uma SM-52/ 4 cores.

Como era a empresa em termos de equipe no início?

O primeiro funcionário foi contratado em fevereiro de 1995, e por essa época também contratei o segundo. Éramos eu e mais dois. Ficamos mais de um ano assim, imprimindo durante o dia. À noite, minha esposa e eu fazíamos o acabamento manual. Aos poucos, fomos contratando mais pessoas. Nos 20 primeiros anos tivemos um crescimento contínuo. Em 2018 tínhamos 12 funcionários. Atualmente, temos seis. Reduzimos inicialmente devido à pandemia, e depois por diminuição no volume de trabalho. Desde então, tivemos dificuldades crescentes para pagar fornecedores e funcionários pontualmente.

A que o senhor atribui a redução do trabalho, mesmo no pós-pandemia?

A pandemia teve reflexos importantes na parada do mercado, mas a informatização também impactou nossa produção, por não fazermos impressões digitais, apenas offset, acabamos perdendo uma fatia significativa do mercado. Antes, essas produções digitais tinham qualidade inferior, mas hoje se equiparam ao offset. Aliado a isso, o fato do digital ter custo mais acessível para pequenas tiragens, acaba favorecendo para os clientes preferirem fazer no digital. Alguns trabalhos digitais até pegamos, mas fazendo em parceria com empresas parceiras, que possuem equipamentos digitais.

Há alguma previsão de investimento em digital?

Sempre me mantenho atualizado do que está acontecendo no setor participando de eventos e feiras. E estamos estudando a implementação de impressoras digitais para atender a pequena demanda. Porém, a questão financeira ainda é um obstáculo.

E o que o senhor tem feito para aumentar a produção?

Atendemos basicamente Curitiba e região metropolitana. Somos todos responsáveis, eu e a equipe de vendedores/colaboradores na busca de novos clientes. Tenho parcerias com algumas gráficas para realizar os trabalhos que elas dispensam no momento e também faço prospecção por meio de contatos pessoais. Isso tem contribuído para, aos poucos, recuperarmos o volume de produção ideal. Também focamos em licitações, que representam 20% do nosso faturamento.

O problema maior hoje em dia é que as margens de lucro caíram drasticamente. Mantemos um faturamento estável e até crescente, mas com lucros reduzidos.

Mesmo com esse quadro de dificuldades, a Primagraf chegou aos 30 anos, o que nem todas as gráficas conseguem. A que o senhor atribui as três décadas de existência?

Crucial para o nosso sucesso foi a confiança em Deus, persistência, sensatez e muita força de vontade para continuar trabalhando, mesmo aos 73 anos. Por impasses financeiros, minha necessidade de continuar é pessoal e também por pensar nas famílias dos meus funcionários e, claro, na minha própria família, que depende da empresa. Hoje eu ainda trabalho de 10 a 12 horas por dia durante a semana e umas quatro horas no sábado.

Temos como uma das principais premissas do nosso trabalho sempre manter alto nível de qualidade e pontualidade. Mesmo com equipamentos de menor porte aos das grandes gráficas, conseguimos produzir materiais com qualidade. Hoje, realizamos a produção de folders, agendas, cadernos, calendários, sacolas entre outros, e atendemos órgãos públicos fornecendo materiais básicos, sempre com muita qualidade.

Vi muitos amigos que tiveram que encerrar suas atividades, mas continuo otimista de que posso superar as dificuldades e alavancar mudanças, como adquirir novos equipamentos.

Como o senhor vê o futuro da indústria gráfica?

Sempre há demanda por trabalho gráfico, e não acredito que o setor esteja falido. Algumas empresas fecharam por conveniência dos proprietários ou dificuldades financeiras, mas continuamos firmes e não é essa dificuldade que nos fará parar.

Quais são suas expectativas para o futuro da Primagraf?

Trabalhamos para estar em uma situação melhor em breve. Não há mal que dure para sempre, e as dificuldades financeiras vão passar, especialmente a dificuldade de aumentar o faturamento. Estamos finalizando a liquidação de grandes financiamentos e reduzindo a dependência de bancos. Espero que estejamos bem ao final de 2025.

Quais foram os fatos mais marcantes na história da empresa?

Um momento notável foi quando começamos a participar de licitações para blocos de controle de estacionamento regulamentado nas ruas de Curitiba, aqueles no estilo raspadinha, que haviam antes de ser tudo por aplicativo. Desenvolvemos o produto com a ajuda de um engenheiro químico, mas demoramos para encontrar a solução final. Conseguimos ganhar o serviço na terceira licitação que participamos. Era contrato anual de fornecimento de aproximadamente 120 mil blocos/mês. Vencemos por vários anos seguidos e, inclusive, fornecemos os blocos também para outras cidades do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Isso nos deu uma boa sustentação financeira. Paramos de fornecer quando surgiram os aplicativos para a compra do Estar.

Também destaco como marcante a participação do meu filho Giancarlo na empresa. Ele é engenheiro mecânico e implantou a informatização para sermos mais rápidos e precisos nos orçamentos. Minha filha Cristiane também já trabalhou na gráfica, assim como minha esposa Verônica, que ajuda até hoje. A eles, o meu reconhecimento.

Como foi sua associação ao Sigep/Abigraf-PR?

Sou associado há mais de 20 anos, de forma ininterrupta, influenciado pelo saudoso amigo José Toaldo Filho. Fazer parte do sindicato é muito importante pelas valiosas informações que recebemos, especialmente referentes às convenções coletivas de trabalho. A troca de experiências me ensinou muito e continuo aprendendo. A união dos gráficos é importante para a gestão eficiente da empresa, com melhorias na produção e na redução de custos.

E finalizando, para comemorar nossos 30 anos, acabamos de adquirir uma Roland-200 Bicolor, meia folha, com a qual, escreveremos mais um capítulo da história da Primagraf.

Foto: Nilo Lovis à frente de sua equipe na Primagraf, que está completando 30 anos.
Créditos: Divulgação.
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